Fonte: ÉPOCA NEGÓCIOS - MARCOS SÊMOLA Sócio de Cybersecurity da EY e professor da Fundação Getúlio Vargas
Ciclos profissionais determinísticos*
\"A vida é curta demais para fazermos sempre as mesmas coisas da mesma forma\"
Ciclo é uma palavra com origem no termo grego kýklos, que significa uma série de fenômenos cíclicos, ou seja, que se renovam de forma constante. No contexto da astronomia, um ciclo é o tempo em anos em que se repetem os mesmos fenômenos astronômicos. O ciclo lunar, por exemplo, tem a duração de 19 anos ou 235 meses, depois dos quais as fases da Lua se repetem aproximadamente nos mesmos dias e na mesma ordem.
No contexto profissional, um ciclo pode ter duração variável e deve ser entendido como um espaço de tempo durante o qual ocorrem recorrentemente uma sequência de fenômenos ou fatos, comumente limitados pela natureza da atividade da indústria, da empresa ou da função.
Profissionais ambiciosos, determinados e que têm uma visão de vida de longo prazo tendem a observar com interesse as características do ciclo em que se encontram. Procuram identificar as fases que compõem esse ciclo e a duração média de cada uma delas. Tudo isso para tomar consciência do tempo esperado que todo o ciclo deverá levar, habilitando-o a se preparar, planejar com antecedência e decidir com confiança quando é hora de encerrar um e começar outro.
Foi assim, quando antes mesmo de ingressar na faculdade, decidi fundar uma empresa de software e iniciar meu primeiro ciclo profissional. Vivi uma avalanche de descobertas ao estilo ‘aprenda fazendo’, o que hoje poderíamos chamar de empreendedorismo-raiz. Entender o mercado, compreender as características de nicho, identificar diferenciais competitivos, desenvolver uma proposta de valor com produtos e serviços que resolvam problemas reais, montar uma equipe alinhada, definir estratégias de preço e marketing, entregar, administrar o negócio e ainda fazer a roda girar sem interrupções e de forma lucrativa foi mesmo uma escola.
Eu sempre soube dos riscos de retardar meu ingresso no mercado de trabalho na busca pelo primeiro emprego, mas foi uma decisão consciente, acreditando no diferencial que a maturidade proporcionada pela ampla experiência empreendedora, representaria.
Nove anos depois, o fim do primeiro ciclo chegou.
Encerrar um ciclo e começar outro é valorizar a renovação, é buscar uma experiência de vida mais diversificada e naturalmente rica. É reconhecer que ainda há muito mais a aprender e ensinar, e dar a si mesmo a chance de fazer diferente. Ciclos profissionais bem planejados são parte de um processo evolutivo natural. Representam a oxigenação do espírito e a renovação da energia produtiva que nos mantém vivos e nos afastam de uma experiência monótona e ordinária.
Por tudo isso, fui naturalmente buscar o mercado de consultoria para abrir meu segundo ciclo, onde a vivência de gerir integralmente um negócio tem reconhecido valor e representa um diferencial competitivo, acelerando assim a progressão profissional. Por um instante, achei que tivesse cometido o primeiro erro de transição, pois encarar o mercado sem nunca ter tido um vínculo empregatício e já com idade fora dos padrões de mercado oferecia natural resistência. Felizmente estava enganado.
Compreender e internalizar essa visão é poderoso e transformador! Você adquire a habilidade de perceber ciclos que começam a ficar improdutivos, desinteressantes e/ou limitantes, e a identificar potenciais desvios e oportunidades de pivotagens, por vezes dentro do próprio ciclo, a fim de colocá-lo no eixo novamente. Isso aconteceu comigo no meio do segundo ciclo profissional. Fui notando a repetição de fenômenos e fatos, e decidi me preparar e promover mudanças de escopo geográfico e de responsabilidade. Deu certo.
Não existe ganho potencialmente maior sem um fator de risco inerente. Foi assim quando, ainda no segundo ciclo, decidi investir em uma carreira internacional. Bati nas portas certas e deixei o país. Ambiente onde tudo era diferente e onde as chances de frustração e fracasso eram maiores do que a de permanecer no velho e confortável ciclo, dando simplesmente mais voltas. A decisão foi acertada e ela abriu espaço para o ciclo seguinte.
Meu terceiro ciclo revelou uma experiência diferente das anteriores. Foi também o ciclo onde cometi alguns erros de julgamento, e por muito pouco não fechei a janela de retorno ao Brasil.
Eu já estava há quase 2 anos vivendo e trabalhando na Holanda, em Haia, depois de ter vivido outros 3 anos em Londres, Inglaterra. Na Shell, eu tinha responsabilidade global por governança, risco e conformidade no negócio de Gás e Energia, mas para a minha esposa, nosso tempo fora já estava longo demais e ela fazia planos de regressar ao Brasil para ampliar a família. Aprendizado: quando há qualquer conflito entre os planos do casal, você tem um problema — e eu tinha um. Na tentativa de resolvê-lo o quanto antes, procurei fazer movimentos de carreira de retorno ao país dentro da própria empresa, mas que foram mal identificados e trabalhados. Felizmente, as opções que pareceram adequadas à primeira vista se desfizeram rapidamente, antes mesmo de ter me debruçado sobre elas. Foi quando o cargo certo surgiu e assim assumi a liderança de tecnologia da informação da Shell no negócio de Downstream América Latina, com base no Rio de Janeiro.
Depois de mais de nove anos em uma mesma empresa multinacional, desta vez como executivo de tecnologia da informação, governança, risco e conformidade, mesmo que experimentando escopos geográficos e de responsabilidade variados, em um determinado momento o ciclo integrado se mostrou esgotado. Não enxerguei possíveis desvios ou oportunidades de pivotagem que fizessem sentido para minha visão de longo prazo, e a decisão foi a de iniciar um ciclo completamente novo e potencialmente alavancador.
Investi tempo, energia e trabalho no ecossistema de inovação. Voltei para a academia. Li mais do que o habitual. Intensifiquei atividades de give back. Co-fundei a própria startup. Ampliei minha rede de relacionamentos e passei a conduzir iniciativas de mentoria, de pré-aceleração de startups e investimento anjo, acreditando ser um elemento complementar e catalizador de toda experiência pregressa, e que pudesse, mais uma vez, ser um diferencial em uma sociedade que vive a euforia e o bônus da transformação digital, mas também precisa gerir o medo e o ônus dos riscos cibernéticos. Foi, portanto, com essa visão estratégica e entusiasmo que comecei a escrever a jornada do meu quarto ciclo profissional.
As particularidades de cada indivíduo devem ser respeitadas, pois nem todos têm tanta ambição ou se sentem insatisfeitos em, uma vez encontrado, permanecer no mesmo ciclo profissional por anos e anos, dando voltas. O mais importante e o que procurei capturar nesse texto despretensioso, mesmo que tomando a mim mesmo como exemplo ilustrativo, foi realçar a consciência de que os ciclos existem e que precisam ser bem entendidos para que o livre arbítrio decida quando e o que fazer com eles.
Eu, sinceramente, não me reconheço como referência para ninguém. Sou apenas ilustração aqui. Contudo, me orgulho de ser o que construí ao longo dos meus 47 anos incompletos, errando, acertando, equilibrando ambição, vocação, desejo, uma certa dose de impulso, e atitude para transformar minha própria realidade em uma história que fizesse sentido para mim. Aprendi com o exercício, por exemplo, que meus ciclos têm a duração média de 9 anos. Aprendi que planejamento me acalma e me transmite controle. Aprendi que tomar risco consciente tende a produzir mais surpresas agradáveis do que desagradáveis, além de tornar sua vida muito mais rica em experiências.
Além disso, venho confirmando o que há tempos acredito piamente: que a vida é curta demais para fazermos sempre as mesmas coisas da mesma forma e que é fundamental construir uma visão integrada pessoal a ser revisitada constantemente, e onde possamos acompanhar a trajetória e os próximos passos sem perder de vista o objetivo maior.
Para os mais curiosos interessados nos detalhes, e que desejarem saber mais sobre os altos e baixos da trajetória, os valores pessoais, os exemplos de família, as armadilhas, os catalisadores, os direcionadores de carreira e as escolhas acadêmicas e profissionais que andei fazendo nos últimos anos, vão encontrar nesse longo bate-papo com o Raphael Avellar, no projeto Extraordinários.
Agora me despeço deixando com vocês a definição de determinismo, meus votos de sucesso, e para me dedicar ao quarto ciclo profissional e ao planejamento da visão para os próximos 47 anos de vida que ainda me restam.
Determinismo substantivo masculino: \"Princípio segundo o qual todos os fenômenos da natureza estão ligados entre si por rígidas relações de causalidade e leis universais que excluem o acaso e a indeterminação, de tal forma que uma inteligência capaz de conhecer o estado presente do universo necessariamente estaria apta tb. a prever o futuro e reconstituir o passado.\"
** Marcos Sêmola é executivo de Tecnologia da Informação com mais de 28 anos de experiência e carreira internacional, especialista em segurança: governança, risco e conformidade e transformação digital. Sócio de Cybersecurity da EY, professor da Fundação Getúlio Vargas, escritor, palestrante, membro do conselho da ISACA, vice-presidente de segurança cibernética do Instituto Smartcity, membro do comitê de segurança da ABINC - Associação Brasileira de IoT, assessor do CEBDS - Conselho Empresarial Brasileiro de Sustentabilidade Desenvolvimento, Membro Fundador do CompTIA Cybersecurity Enterprise Council Brasil, Diretor do Founder Institute para startups, empreendedor, mentor e investidor membro da Anjos do Brasil.
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