FONTE:
O Estado de S.Paulo
10 Janeiro 2018 | 03h02
O consumo continua puxando a reativação da economia, como comprovam os dados do varejo até novembro, bem superiores aos de um ano antes. A volta do consumidor às compras deve ser atribuível principalmente a quatro fatores – o reforço da renda familiar, as condições de emprego mais favoráveis, a consequente melhora das expectativas e o crédito mais acessível. Em novembro, o volume das vendas no varejo restrito foi 0,7% maior que no mês anterior e 5,9% superior ao de igual mês de 2016. Com a inclusão de carros, motos, partes de veículos e materiais de construção, obtêm-se os números do varejo ampliado, 2,5% maiores que os de outubro e 8,7% acima dos de novembro do ano anterior.
Os dados do varejo combinam com os da indústria, compondo um quadro de reativação segura, embora lenta, da atividade econômica, depois de dois anos de recessão. A retomada fica mais perceptível quando se confrontam os dados de 2017 com os de um ano antes. De janeiro a novembro, a produção industrial superou por 2,3%, em volume, a dos 11 meses correspondentes de 2016. Além disso, o total produzido em 12 meses foi 2,2% maior que o registrado no período imediatamente anterior.
No ano, a fabricação de bens de consumo ultrapassou por 5,4% a de janeiro a novembro de 2016. O mesmo tipo de comparação aponta um aumento de 15,2% na produção de duráveis, dado compatível, basicamente, com o aumento do crédito às famílias. Em 2017, até novembro, os empréstimos concedidos a pessoas físicas, com recursos livres, foram 9% superiores àqueles contabilizados um ano antes, de acordo com o Banco Central (BC). No mesmo período, os financiamentos a pessoas jurídicas ainda ficaram 2,2% abaixo dos de um ano antes, embora tenham superado os do ano anterior no mês e no trimestre.
O movimento do comércio varejista em novembro foi favorecido por promoções, especialmente por causa da popularização da Black Friday. Os números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) são depurados, formalmente, dos fatores sazonais. Não está claro, como observam alguns analistas, se essa depuração já neutraliza adequadamente os efeitos da Black Friday, até porque as ofertas típicas dessa data foram ampliadas para um período maior por muitas lojas.
De toda forma, é preciso reconhecer a resposta positiva dos consumidores. Além disso, os dados trimestrais e os acumulados no ano e em 12 meses reforçam a ideia de reativação do consumo. No trimestre móvel encerrado em novembro, as vendas no varejo restrito foram 0,1% maiores que as do trimestre anterior. No varejo ampliado, a expansão foi de 0,6%. No mesmo trimestre móvel, a produção industrial cresceu 0,9%, enquanto o desemprego recuou de 12,6% para 12% da força de trabalho.
O aumento da massa de rendimentos está vinculado à expansão do número de empregados, com e sem carteira assinada, e à preservação do poder de compra do salário. Esta preservação resulta principalmente da evolução mais favorável dos preços. No início de 2016, a inflação acumulada em 12 meses estava em 10,71%. Em dezembro, em 6,29%. Em janeiro de 2017, a taxa acumulada em 12 meses caiu para 5,35%. A queda continuou durante o ano e nos 12 meses terminados em novembro chegou a 2,80%. Essas taxas correspondem à variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
O êxito no combate à inflação favoreceu duplamente a reativação do consumo e da produção – pelo menor desgaste do poder de compra da moeda e pela redução da taxa básica de juros. Além disso, a deflação dos preços dos alimentos, provavelmente já encerrada, abriu espaço no orçamento para compras de outros tipos de bens. A inflação deve ser pouco maior em 2018, mas sem prejudicar seriamente o poder de consumo familiar.
A reativação apenas começou e o volume de vendas, em novembro, ainda foi 8,6% inferior ao recorde atingido em outubro de 2014. Se nenhuma grande tolice for cometida, o avanço continuará em 2018.
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