Indústria melhor que em 2016 com crescimento 4% maior que a de um ano antes
Publicado em 04/10/2017
FONTE: O Estado de S.Paulo
04 Outubro 2017 | 03h07
Com resultados melhores que os do ano passado, e até surpreendentes em alguns pontos, a recuperação da indústria prossegue, apesar de algumas oscilações. Em agosto, a produção foi 0,8% menor que a de julho, mas 4% maior que a de um ano antes. O recuo na série mensal ocorreu depois de quatro meses consecutivos de avanço. O balanço do ano aponta um ganho de 1,5% em relação ao volume acumulado de janeiro a agosto de 2016, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A comparação do produto de 12 meses com o do período imediatamente anterior ainda mostra um dado negativo (-0,1%), mas próximo do equilíbrio. A agropecuária puxou o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre. A participação industrial cresceu no trimestre seguinte. A tendência se mantém e esse fato é particularmente relevante.
A indústria é a principal fonte de empregos de qualidade – com registro em carteira, nível dos salários e benefícios complementares – e importante elemento dinamizador de toda a economia. Não se poderia falar de uma efetiva recuperação antes de uma reação mais firme do setor industrial. Os números acumulados nos últimos meses apontam uma clara superação do cenário recessivo e um retorno firme, embora lento, à trajetória de crescimento. As complicações políticas têm ocasionalmente afetado a confiança de empresários e consumidores, mas sem travar, pelo menos até agora, a revitalização dos negócios.
A indústria tem respondido a estímulos tanto do mercado interno como do comércio exterior. De janeiro a setembro a exportação de bens industrializados atingiu o valor de US$ 82,54 bilhões, 11,9% maior que o de um ano antes pela média dos dias úteis. Principal componente desse bloco, a venda externa de manufaturados proporcionou receita de US$ 59,20 bilhões, 11,2% superior à de 2016 no mesmo período. O faturamento obtido com os semimanufaturados, de US$ 23,34 bilhões, superou por 13,7% o dos nove meses correspondentes do ano anterior.
A participação dos industrializados na receita comercial diminuiu de 53,2% para 50,1% de um ano para outro, enquanto a dos produtos básicos passou de 44,5% para 47,6% (a diferença é explicável pelo item “operações especiais”). Para avaliar a variação dessas porcentagens é preciso levar em conta um detalhe nem sempre lembrado. Os preços dos bens industriais são mais estáveis que as cotações dos primários. O aumento da receita, no caso das exportações da indústria, é mais claramente associado à expansão do volume vendido.
O recuo mensal de 0,8% em agosto é explicável pela produção menor de dois segmentos, o de bens intermediários (-1%) e o de bens semiduráveis e não duráveis (-0,6%). A produção de bens duráveis de consumo cresceu 4,1% no mês (puxada principalmente pelo setor automobilístico) e a de bens de capital aumentou 0,5%.
Os números da indústria de bens de capital (máquinas e equipamentos) têm surpreendido. A produção de agosto foi 9,1% maior que a de um ano antes. O volume acumulado em 2017 foi 4,4% superior ao de janeiro a agosto de 2016 e em 12 meses o crescimento foi de 3,1%. No ano, a expansão do segmento de bens de capital foi liderada por equipamentos de transporte, de uso misto, para construção e para agricultura. A produção de bens especificamente para uso industrial foi menor que a de um ano antes, por causa do excesso de capacidade remanescente em boa parte das empresas.
O uso da capacidade instalada cresceu 0,3 ponto porcentual em agosto (segundo mês consecutivo de expansão) e atingiu 77,8%, 1 ponto porcentual acima do número de agosto de 2016. Mas a média do ano foi 0,1 ponto menor que a do ano anterior, segundo a Confederação Nacional da Indústria.
O aumento da produção de bens de capital para construção é um detalhe animador. Pode ser indício de reativação de obras, atividade importante para o emprego. Mas essa reativação só ganhará impulso mais sensível quando o governo avançar nas concessões de infraestrutura e privatizações.