Corte nos juros, maior procura por crédito pelo consumidor e queda nos preços dos produtos podem ampliar as vendas em cerca de 1%
FONTE: O Estado de S.Paulo 01 Agosto 2017 | 05h00
Após dois anos seguidos de retrações significativas, o pior momento para o comércio varejista pode ter ficado para trás. A queda dos juros, a reação no crédito que ocorreu em junho, somadas ao recuo nos preços dos produtos, devem funcionar como uma alavanca nas vendas dos próximos meses. A queda no volume de vendas acumuladas até maio deve se estabilizar na virada do ano e a perspectiva é que os negócios voltem a crescer a partir do segundo semestre, concordam economistas.
Ainda que as projeções de avanço real no volume de vendas para este ano sejam modestas – em torno de 1% para o varejo restrito e de 2% para o ampliado, que inclui materiais de construção e carros – é uma boa notícia após o tombo de quase 11% nas vendas em dois anos.
“O varejo vai virar o jogo a partir de julho, agosto”, prevê o economista da Confederação Nacional do Comércio, Fabio Bentes. Ele leva em conta o volume de vendas acumulado no ano. Até maio, as vendas do comércio varejista restrito caíram 0,8% ante igual período de 2016. No ampliado, o recuo foi de 0,6%, nas mesmas bases.
Entre os fatores apontados por Bentes, que contribuem para o cenário favorável, em primeiro lugar está a queda dos preços, especialmente dos bens duráveis, além do recuo dos juros, agora em um dígito (9,25% ao ano). “A retomada leve do emprego também ajuda.” Neste ano até julho, os preços de TVs, aparelhos de som e informática, por exemplo, ficaram 7,67% mais baratos, apontou a prévia da inflação oficial, o IPCA-15.
“Para o 2.º trimestre, a sinalização para o consumo e o crédito são favoráveis”, afirma a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thaís Zara. Ela observa que o total de crédito tomado pelo consumidor cresceu em junho pela primeira vez sobre o mesmo mês do ano anterior, depois de 20 meses seguidos de queda, segundo o BC.
Para o varejo restrito, a consultoria projeta crescimento de 1% no volume de vendas este ano. Em 2015 e 2016, as retrações foram de 4,3% e 6,3%, respectivamente, diz o IBGE. A economista observa que a base de comparação baixa ajuda, mas pondera que há espaço para ajustes. Na sua opinião, grande parte dos efeitos da queda de juros vai aparecer no 2.º semestre. “O consumo está voltando, o pior já passou. Estamos num ponto tão baixo que qualquer alívio será recebido com festa.”
Fábio Silveira, diretor de consultoria MacroSector, diz que o comércio terá um pequeno alento no ano (0,8%) por causa do aumento do volume de crédito ao consumidor, crescimento na massa real de rendimentos dos trabalhadores e a perspectiva, no fim do ano, de maior endividamento das famílias.
Sufoco.
O economista do Ibre/FGV, Julio Mereb, credita a perspectiva de melhora do varejo a um quadro mais favorável das condições financeiras das famílias. Para chegar a essa conclusão, ele calcula um índice que considera um conjunto de variáveis ligadas ao crédito, endividamento e juro real. Quanto menor o índice, melhor a condição do orçamento do consumidor para voltar às compras. Após bater o pico em fevereiro de 2016, o indicador teve recuo expressivo e, em maio, estava próximo de zero. Esse movimento, combinado com a queda dos juros, a queda dos preços e a liberação das contas inativas do FGTS, deve dar um impulso positivo para as vendas, prevê.
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