FONTE: O GLOBO POR ANA PAULA RIBEIRO / GLAUCE CAVALCANTI / GERALDA DOCA 26/07/2016 4:30 / atualizado 26/07/2016 8:21
Mudança de ritmo. Construtoras elevam número de lançamentos diante de aumento da confiança do consumidor e de estímulos de crédito para a compra da casa própria pela Caixa Econômica Federal, que liberou R$ 16 bilhões
SÃO PAULO, RIO e BRASÍLIA - Os sinais de que a economia começa a se recuperar e a maior confiança tanto de empresários como de consumidores nos rumos do país estão sendo um estímulo para incorporadoras e construtoras de imóveis desengavetarem projetos. Um levantamento da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) mostra que, de janeiro a maio, o número de novas unidades em construção no país chegou a 5,7 mil, uma alta de 24,7% na comparação com igual período de 2015. Há casos de construtoras em que o aumento de lançamentos chegou a 72%. As novas regras da Caixa Econômica de estímulo ao crédito imobiliário, tanto às empresas quanto a pessoas físicas, que entraram vigor ontem e somam R$ 16 bilhões, deverão aquecer ainda mais o setor, que teve um desempenho combalido em 2015. Para as empresas, 2016 está sendo considerado um ano de retomada de fôlego.
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— Temos notado uma mudança de humor, com maior confiança da população e dos empresários na economia. Isso é fundamental para que o mercado imobiliário retome o crescimento. Os lançamentos já voltam a ganhar ritmo, e as medidas de estímulo da Caixa ajudam porque atendem a uma faixa de compradores (de maior renda) que não era contemplada — afirma Luís Fernando Moura, diretor da Abrainc, que reúne 20 empresas do setor que atuam em todo o país.
A Caixa dobrou o valor de avaliação dos imóveis de R$ 1,5 milhão para R$ 3 milhões para financiamento pelo Sistema Financeiro Imobiliário (SFI), voltado a quem quer adquirir imóveis acima de R$ 750 mil. O banco vai liberar R$ 6 bilhões para esta linha e mais R$ 10 bilhões para financiar as construtoras.
CONDIÇÕES FAVORÁVEIS AO CONSUMIDOR
Segundo o vice-presidente de Habitação da Caixa, Nelson Antonio de Souza, as medidas, além de estimular as vendas e aquecer o setor, vão permitir ao banco — que detém 67% de participação no mercado — cumprir a meta de aplicação em crédito imobiliário de R$ 93 bilhões em 2016. Também estão nessa conta os recursos do FGTS, destinados ao Minha Casa Minha Vida.
— A expectativa é executar todo o orçamento, além de aumentar a velocidade das vendas e a própria economia. A construção civil é um dos setores que respondem mais rapidamente a medidas de estímulo — disse Souza, acrescentando que o simulador de empréstimo da Caixa chega a ter 6,5 milhões de acessos por mês.
No Rio, os estímulos da Caixa são vistos como um sinal de melhora, mas ainda tímido.
— No setor, a certeza é de que saímos do fundo do poço. O governo dizer que vai dar mais crédito é ótimo. Mas não traz resultado imediato. Mostra que o banco quer financiar, e isso vai mexer com as taxas dos bancos privados. Nos últimos 60 dias, as vendas estão melhores — afirma João Paulo Matos, presidente da Ademi-RJ, entidade que reúne as construtoras cariocas.
Para Moura, da Abrainc, o aumento no número de lançamentos mostra que as incorporadoras acreditam que haverá retomada das vendas, no médio prazo, já que os empreendimentos demoram de dois a três anos para serem concluídos. Em 2015, os lançamentos somaram 64,1 mil unidades, uma queda de 15,4% em relação ao ano anterior. Para este ano, as empresas dizem que os lançamentos terão mais fôlego, e as vendas vão apontar um início de recuperação. Nos primeiros cinco meses de 2016, foram vendidas 8,5 mil unidades, ainda um recuo de 14,7% em relação ao mesmo período do ano passado. Mas, no segundo semestre, diz o diretor da associação, essa queda deve ser amenizada pelas medidas da Caixa.
Bruno Serpa Pinto, vice-presidente de Operações da Brasil Brokers para o Rio, acredita que o momento favorece o consumidor, com queda de preços e condições melhores de negociação:
— As pessoas estão voltando a comprar porque as condições estão favoráveis. As incorporadoras tiveram aumento no endividamento e apresentam dificuldades de caixa. Elas baixaram o preço de venda para pagar financiamentos adquiridos de obras já realizadas.
A casa própria está entre os principais sonhos do brasileiros. Listamos as principais linhas de habitação oferecidas pelo banco e as regras para o uso do FGTS para financiar a compra da casa própria, de acordo com dados da Caixa Econômica Federal.
No Grupo Rodobens, os lançamentos imobiliários somaram R$ 169 milhões no primeiro semestre deste ano, um crescimento de 72% sobre o feito em igual período de 2015. O presidente da empresa, Mauro Meinberg, reconhece a melhora, mas diz que ainda é preciso cautela.
— Retomamos os lançamentos, mas em praças que fizemos um trabalho exaustivo para avaliar se havia demanda efetiva. Temos indícios preliminares de melhora nos índices de confiança, mas ainda acompanhamos a melhora das condições de mercado — disse, acrescentando que a empresa também estuda os lançamentos de concorrentes, para ter certeza que não haverá uma superoferta, frustrando as vendas futuras.
A Eztec, empresa que atua em São Paulo no segmento de alto padrão, lançou, no ano passado, apenas dois empreendimentos, o pior desempenho desde a abertura de capital, em 2007. Neste ano, até junho, fez dois lançamentos e outros seis projetos estão praticamente finalizados.
— Qualquer estímulo feito pela Caixa, mesmo que modesto, é importante, pois, como ela tem participação de mercado muito forte, faz com que os bancos privados sigam o mesmo caminho — avaliou Emílio Fugazza, diretor financeiro da Eztec.
A Direcional Engenharia e a MRV, ambas com foco no segmento Minha Casa Minha Vida, apresentaram crescimento nos lançamentos no primeiro semestre deste ano, respectivamente, de 55% e 3,5%, comparado ao mesmo período de 2015. Na Gafisa, os lançamentos totalizaram R$ 853,7 milhões no primeiro semestre, um crescimento de 7% em relação aos seis primeiros meses de 2015. A maior responsável pela alta é a marca Tenda, de imóveis econômicos, nas regras do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), avaliados em até R$ 750 mil.
SE DEMANDA CRESCER, PODE FALTAR IMÓVEL EM 2017
O segmento coberto pelo SFH foi exatamente o mais afetado no ano passado. Além da retração econômica, agravada pela incerteza política, essa parcela ainda sofreu com a elevação dos juros e a restrição do crédito pela Caixa, que passou a exigir uma entrada maior. Isso porque a instituição estava praticamente sem recursos para esses empréstimos devido ao alto volume de saques da caderneta de poupança, que é a principal fonte de recursos do SFH. O resultado foi o cancelamento de muitos contratos (os chamados distratos), já que os mutuários não tinham como arcar com os financiamentos dos imóveis comprados na planta.
João Paulo Matos, que também é diretor da Calçada, ressalta que, no último fim de semana, vendeu 40 das 90 unidades em estoque da construtora em projetos no Recreio dos Bandeirantes, a maioria de distratos ou devolução por inadimplência.
O preço dos imóveis anunciados para venda no Rio acumula queda de 1,71% em 12 meses, segundo o Índice FipeZap, apurado em 20 municípios do país. Apesar de estar entre as oito cidades que registraram variação negativa, o Rio continua a ter o metro quadrado mais caro do país, por R$ 10.251, bem acima da média nacional, de R$ 7.635. Segundo Serpa Pinto, a cidade tem um estoque para vender por 14 meses, na velocidade atual de comercialização:
— Se a demanda reaquecer, já em 2017 poderá haver falta de imóveis novos para a venda.
Para Rubem Vasconcelos, presidente da imobiliária Patrimóvel, a janela de oportunidade para o comprador está se fechando:
— A demanda está reprimida, pela suspensão dos lançamentos, quando retomar, haverá retomada dos preços.
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