Um centro que se valoriza - Adriana Lorete
FONTE: O GLOBO
RIO - A valorização do metro quadrado para aluguel residencial no Centro, nos primeiros seis meses do ano, foi a mais alta da cidade: 9,6%. A rentabilidade para quem aluga seu imóvel também foi destaque no semestre, com 0,58% na Lapa e 0,47% no Centro — na Zona Sul, o bairro mais rentável para os proprietários foi Copacabana, com 0,39%, segundo dados do Cenário do Mercado Imobiliário divulgados pelo Sindicato da Habitação, o Secovi-Rio. Não à toa, já há investidores internacionais vendo na região a possibilidade de ganhar dinheiro com retrofits e lançamentos residenciais.
Um grupo de investidores argentinos comprou três imóveis em que pretende fazer retrofits para lançar apartamentos. Um deles é o Hotel Barão de Tefé, na área do Porto, que deverá ser transformado num residencial de luxo com unidades a R$ 18 mil, o metro quadrado. E um grupo imobiliário alemão está tentando licenciar uma obra na Rua Paula Matos, na descida de Santa Teresa. A intenção é construir ali 26 casas no estilo loft com 100m². Cada imóvel seria vendido a R$ 1,2 milhão.
Salgado? Certamente. Mas há quem acredite que há, sim, mercado para absorver a novidade. Até porque, novas construções residenciais em toda a região são raras. Dados da Associação dos Dirigentes do Mercado Imobiliário (Ademi-RJ) mostram que desde 2010 foram lançadas apenas 80 unidades na Lapa e outras nove em Santa Teresa.
— Qualquer área no Centro pode ser um bom investimento. Há regiões bonitas, onde seria agradável morar e muitos empresários gostariam de lançar empreendimentos. Claro que seriam imóveis mais compactos. Mas ainda há áreas degradadas onde precisa haver uma revitalização, além de imóveis em regiões de Apacs, o que também dificulta — aponta João Paulo Matos, presidente da Ademi-RJ.
Demanda não parece ser problema. Os preços altos na Zona Sul, de um lado, e a falta de mobilidade em toda a cidade, por outro, vêm tornando a região mais atraente a cada dia. Os investimentos feitos em algumas áreas, como a do Porto — apesar do descompasso na construção de condomínios residenciais, como o Porto Vida — também chamam atenção para a área.
E, de fato, os imóveis vêm se valorizando. Dados do Secovi-Rio mostram que, no semestre, o preço de venda no Centro subiu 3,9%, próximo à inflação do período, de 3,7%. Aumento maior que em bairros como Ipanema (2%), Leblon (3,2%) e Tijuca (2,7%).
— Os preços dos residenciais no Centro nunca vão se equiparar aos da Zona Sul, mas a tendência é que a diferença entre as regiões diminua, já que o Centro ainda tem força para se valorizar — diz Maria Teresa Mendonça Dias, vice-presidente financeira e de desenvolvimento do Secovi-Rio.
A diminuição do número de ofertas é outro fator determinante. Levantamento da Sérgio Castro Imóveis, empresa com forte atuação no Centro, mostra que a taxa de vacância dos imóveis residenciais gira em torno de 2,5% na região, contra 11% dos comerciais.
— A oferta residencial é profundamente reprimida e tem muita gente querendo — afirma Cláudio Castro, diretor comercial da empresa.
REVISÃO EM APACS E CORREDOR CULTURAL PODE ATRAIR MAIS INVESTIMENTOS
O Porto, aliás, é uma das áreas mais aguardadas para o desenvolvimento de imóveis residenciais. Mas o único prédio já anunciado até agora teve as obras paralisadas em junho. O Porto Vida Residencial foi projetado para ser a Vila de Árbitros e de Mídia das Olimpíadas de 2016. Com a desistência da prefeitura em usar o equipamento para este fim, no entanto, a empresa Porto 2016 Empreendimentos Imobiliários, responsável pela construção, resolveu readequar o projeto, os cronogramas de obras e seu lançamento. Ainda não se sabe quando os imóveis serão entregues.
Enquanto o Porto não vem, outras iniciativas estão sendo tomadas para atrair a população para a região central da cidade. Uma delas é a revisão da legislação das Apacs e do Corredor Cultural que está sendo feita em conjunto pela Secretaria municipal de Urbanismo e pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade.
— O papel do poder público é provocar tanto a demanda, estimulando que haja vida cultural na região, quanto o mercado, via investimentos. Já revitalizamos a Praça Tiradentes, a Lapa e agora fazemos esse estudo — diz Washington Fajardo, presidente do instituto. — E acho que o mercado já começa a olhar para o Centro e avaliar que as intervenções que vêm sendo feitas, como malha de VLT e Porto Maravilha, vão melhorar as condições de moradia da região.
Interesse na área não falta aos empresários do setor. A construtora PDG, por exemplo, que no passado fez o Cores da Lapa, maior exemplo do potencial de vendas da região, está no momento fazendo um retrofit comercial no antigo prédio da Slopper, na Uruguaiana, e já estuda lançamentos residenciais para o ano que vem.
— O Centro tem vocação tanto comercial como residencial, até por conta da infraestrutura do bairro. O problema é que a legislação da região sempre dificultou, mas agora acho que isso está sendo revertido — avalia Cláudio Hermolin, diretor executivo regional da PDG Rio.
Quem sabe não esteja aí uma chance de aumentar as ofertas na região. Os interessados em morar ali agradeceriam. Afinal, o número de imóveis disponíveis para locação, apesar de ter crescido 12,9%, fechou o primeiro semestre em apenas 45 ofertas entre Centro e Lapa. Já o número de imóveis anunciados em junho para venda na área foi de 550, segundo o Secovi-Rio, um crescimento de 29,7% desde janeiro.
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