O Rio dá uma lição ao Brasil
Como a cidade driblou o declínio, voltou a ser um polo econômico e cultural – e hoje inspira as demais metrópoles brasileiras
LEONARDO SOUZA, COM MARTHA MENDONÇA E MAURÍCIO MEIRELES
CHEGA DE SAUDADE Vista noturna do Rio de Janeiro a partir do Morro do Corcovado. A cidade renasce com investimentos públicos e privados (Foto: Ricardo Zerrenner)CHEGA DE SAUDADE
Vista noturna do Rio de Janeiro a partir do Morro do Corcovado. A cidade renasce com investimentos públicos e privados (Foto: Ricardo Zerrenner)
Em julho de 2016, quando os cariocas passarem a pira olímpica para os organizadores dos Jogos de 2020 – as candidatas são Tóquio, Istambul, Madri, Doha e Baku –, o Rio de Janeiro será outra cidade. A capital fluminense, como San Francisco ou Lisboa, voltará a ter bondes charmosos circulando pelo centro da cidade – numa versão moderna, os Veículos Leves sobre Trilhos, ou VLTs. Como em Buenos Aires, a antes decadente zona portuária voltará a ser um polo de negócios e turismo – o primeiro passo foi a inauguração do Museu de Arte do Rio (MAR), na semana passada. Como em Tóquio ou Berlim, grandes obras arquitetônicas embelezarão a região central, caso do Museu do Amanhã, projetado pelo premiado espanhol Santiago Calatrava. Como em Paris ou Barcelona, avenidas fechadas para automóveis serão transformadas em bulevares.
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Desde que se tornou a primeira capital de um país europeu fora da Europa – quando o rei de Portugal Dom João VI se mudou para o Brasil, em 1808, fugindo das guerras napoleônicas –, o Rio de Janeiro é o principal cartão de visita do país. Esteve perto de perder esse protagonismo quando deixou de ser capital, em 1960, e quando passou a enfrentar índices altíssimos de violência urbana, nas últimas décadas do século XX. No século XXI, o outono do desalento se transformou em glorioso verão sob o sol carioca. O Rio deixou de sentir saudade do passado e voltou a olhar para o futuro. A impressionante reviravolta carioca traz várias lições para as demais metrópoles brasileiras. Deve servir de inspiração para paulistanos e natalenses, ludovicenses e manauaras, soteropolitanos e capixabas, brasilienses, florianopolitanos, curitibanos etc. O renascimento do Rio se baseia em cinco pilares – e cada um deles traz lições para as demais cidades:
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1) É impossível virar o jogo sem dinheiro. O investimento pode ser público (para isso, o Erário municipal precisa ser saneado) ou privado. O Rio é a cidade campeã brasileira de PPPs, as Parcerias Público-Privadas e a capital regional que mais atrai investimentos no mundo;
2) É preciso adotar um sistema eficaz de gestão e cobrança por metas, que faça as obras sair do papel nos prazos previstos. O Rio se tornou um canteiro de obras, situação que deve se tornar ainda mais visível a partir do segundo semestre (leia o quadro abaixo);
3) O eixo da recuperação de uma cidade deve ser o sistema de transportes. O Rio adotou um modelo inovador de distribuição do fluxo humano, que envolve metrô, corredores exclusivos para ônibus articulados e novas siglas que começam a fazer parte da vida carioca, como VLS ou BRT. O objetivo é retirar carros e ônibus das ruas para melhorar o trânsito e a qualidade de vida;
4) A segurança do cidadão deve ser encarada como prioridade. Para isso, qualquer cidade precisa, como o Rio, manter uma parceria com o governo estadual que funcione tão bem quanto as célebres Unidades de Polícia Pacificadora, as UPPs, implantadas nas favelas cariocas tomadas do tráfico;
5) Oportunidades existem para ser aproveitadas. O Rio recebeu uma dádiva da natureza, as reservas de petróleo na camada do pré-sal, que traz benefícios para o Estado e atrai investidores (na semana passada, uma decisão do Supremo Tribunal Federal passou a ameaçar os royalties a que o Rio faz jus, como se pode ler na página 12). Outra oportunidade foi aberta pelos grandes eventos que o Rio sediará – como as finais da Copa das Confederações neste ano, da Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Ao usar os eventos para alavancar a recuperação da cidade, o Rio acendeu o rastilho do crescimento econômico.